quarta-feira, 24 de abril de 2024

recordações duma caixa de transmissão

Contacto os membros antes de seguir viagem:
A perna boa de um coxo,
merece palmas?
Talvez porque se esforça mais?
Também erra mais.

Indo directo ao ponto, 
eu quero que as festividades se montem no quinto
do Quitério. 
Sou um perneta que não pula nem dança,
um braço frouxo que descansa
no repouso duma cabeceira antiga,
e o outro posto na mudança,
imagina,
como se houvesse mudança.
Semblante fechado, dentes que rangem
com a transmissão da esperança
numa madrugada de Abril,
noutros tempos criança,
agora senil.

Sorriso amarelo por debaixo da mordaça
um esboço pneumático dum virtuoso catedrático,
meio esmola meio dízimo,
que com suor tranquiliza, sem graça,
miúdas e graúdas e os herdeirinhos
do que sobra dos senhores do novo feudo.
Mais um hino pró reumático,
mais um canto com vaidade,
descreve a trova retumbante,
chupa com gosto o comandante.
O custo? Terra e mar.
Roda a chave, toca a andar!

No eixo a nave opera,
circuito nem fixe nem bera.
Ignição camuflada, calca com fé
que a única que resta é a que move a máquina.
Mas se visses como era...!
É.
E se te cruzas com a fera...?
Ré.
Vrruuum! Adiante! 
Relaxa, mão no volante,
desbrava essa rota que impera
em tons de marcha e cante. 
Confiante?
Só demos mais uma volta.
Vrruuum! Vá-se lá saber
se sabem ler ou escrever
se morrem muitos a nascer
se partem antes ou depois do adeus. 
Sabe Deus.

Quando a braçadeira se fez carteira
e o colete estrela
onde estava o carro? 
Fiquei apeado. 
Ficamos, 
ficaste, 
estou.

Desfaz-me essa cassete de cortejo,
aquela de ontem e agora esta,
pois se soubesses o que circula na via
choravas na tua festa. 

Incapaz de conduzir esse bote
(sou coxo)
por mim era deixar ir abaixo
e esperar pelo mote
(boom!).
Até mais combustão, 
espera-nos o trote.