quarta-feira, 27 de setembro de 2023

manual prático de artismo

estética auto-sustentada

é um "ai nossa senhora" agnóstico,

uma pilantra da noite

que se nega não na imagem

mas na substância.


quem lhe sacode o capote descobre

o pó e o cristal e as raízes de todo o mal.


um marmelo que retrate

a arte.

facilita na causa e ajuda no engate.


há várias formas:

vende, compra, dá ou empresta.

quem tem pressa não empresta,

sabe que fuinha que baste

não joga regras nem normas.

mas quebra!

alega

(nunca pisando na risca).

aliás, quem a estica

senão a bisca trunfada?


com a manilha na mão

e o ás na machada

a carpintor lá se esforça:

faz uma casa a cores

e o malvado tira o seu quinhão.

é o preço dum abrigo,

abrigo da quinta e da choça.


mais uma noite branca, como quero,

pensando na vida com amigos de pedra.

não batem cartada, só fazem poemas.

donos de prédios, eu não quero problemas!



segunda-feira, 18 de setembro de 2023

Considerações sobre este agora de 200 anos

Como posso falar livremente neste canto escondido, penso em voz alta:

Não parece haver nem remédio, nem escolha, nem meta

nem inimigo, perdão ou razão. 

Um funil neurótico,

sem fim.


Todos não são todos mas sim uma colecção de eus,

com os eus definidos como um todo, uma média aritmética

cuja fuga (ou tentativa de) também o define.

Prudente e zeloso!


E eu, no meio desses eus,

não sou um dos todos, ou de parte deles?

Óbvio que sim.


Se o divino agora é escrito, como muitas vezes foi,

mas desta vez em números concretos, 

e se a fuga é calculada e impressa na definição da aflição que a alimenta,

e se não há nem remédio, nem escolha, nem meta

nem inimigo, perdão ou razão,

então... o quê?

Será fora do binário entre a acção e a aceitação que está o remédio, 

ou a escolha, ou a meta

ou o inimigo, a perdoar, 

ou o propósito?


Como se sonha com cores que não se vêem?


Nas fronteiras da linguagem o sonho apresenta-se como uma meta,

então a analogia é pobre.

Deveria procurar o divórcio entre o sonho e o desejo,

mas se estes estão casados então que Deus os separe.

Ou a morte.


Eu sei leitor, são muitas perguntas,

bem adverti que estas são reflexões ocultas na insuficiência do meu alcance.


Insignificante, uma bela casa de portas bem fechadas,

pois ser anónimo é ser pequeno

e o pequeno é seguro e pode ser gentil.

Sou um eu em muitos eus. 


Talvez o certo seja forçar a mão do destino, 

sem remédio, nem escolha, nem meta

nem inimigo, perdão ou razão. 

O erro foi achar que o pé esquerdo tem que saber o chão que pisa

e só anda se este for melhor.

Caminhar é um instinto, não um cálculo. 


Se me vendes um plano, eu compro

o dinheiro não vale nada e a música não pára só por teres outra pauta.

Compositor só um, e Ele não sou eu.


Afinal há mais do que eus nos todos.