sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

deita-te e sê portento

eram 5 da tarde e o sol pôs-se sem pressas.

enterrei um JP junto à rocha que me ilustra os sons antigos,

assim até metade,

e deixei a mala fazer de mesa.

um mar fim-de-tudo aparta-se do paraíso com um fio de areia: tróia.

duas penínsulas como cabeças que se acercam para um beijo glorioso,

estampado numa fotografia,

sem nunca se tocar.


sentado, equilibrei a mesa nas pernas e fechei com gentileza a caixa.

não estava ali por minha causa,

pelo menos desta vez,

mas tornei a vir muitas. 


trouxeste-me num passeio que para ti foi importante e para mim foi mais. 

em fato de banho, peça única de azul profundo,

seguiste para a água

e eu acendi a que estiquei.

em quase tudo eramos miudinhos.

correste para o mar,

tal como quando chegaste

e tal como partiste.


a lua tímida dum outono precoce espreitava comigo,

o mundo deixava-se estar.

nunca entendi a felicidade dum chapinhar à beira-mar

mas entendi a tua, nem que por breves momentos.


nesse dia, voltaste:

uma cena pintou-se no deserto deste canto

e eu apaguei a beata na rocha e meti-a dentro da garrafa vazia.

os astros, imóveis, retomaram marcha,

o tempo voltou a correr. todo o mundo foi esse instante.


quando sonho com este dia mais feliz

anoitece mais depressa, o sol é impaciente. 

compreende-se.

nesse sonho não voltaste.




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