eram 5 da tarde e o sol pôs-se sem pressas.
enterrei um JP junto à rocha que me ilustra os sons antigos,
assim até metade,
e deixei a mala fazer de mesa.
um mar fim-de-tudo aparta-se do paraíso com um fio de areia: tróia.
duas penínsulas como cabeças que se acercam para um beijo glorioso,
estampado numa fotografia,
sem nunca se tocar.
sentado, equilibrei a mesa nas pernas e fechei com gentileza a caixa.
não estava ali por minha causa,
pelo menos desta vez,
mas tornei a vir muitas.
trouxeste-me num passeio que para ti foi importante e para mim foi mais.
em fato de banho, peça única de azul profundo,
seguiste para a água
e eu acendi a que estiquei.
em quase tudo eramos miudinhos.
correste para o mar,
tal como quando chegaste
e tal como partiste.
a lua tímida dum outono precoce espreitava comigo,
o mundo deixava-se estar.
nunca entendi a felicidade dum chapinhar à beira-mar
mas entendi a tua, nem que por breves momentos.
nesse dia, voltaste:
uma cena pintou-se no deserto deste canto
e eu apaguei a beata na rocha e meti-a dentro da garrafa vazia.
os astros, imóveis, retomaram marcha,
o tempo voltou a correr. todo o mundo foi esse instante.
quando sonho com este dia mais feliz
anoitece mais depressa, o sol é impaciente.
compreende-se.
nesse sonho não voltaste.
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